ATA DA
QUADRAGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA
LEGISLATURA, EM 15.09.1988.
Aos quinze
dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na
Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre,
em sua Quadragésima Sexta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária
da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão
Emérito ao Sr. Kléber Lima de Castro, concedido através do Projeto de Resolução
n.º 19/88 (proc. n.º 902/88). Às dezessete horas e vinte minutos, constatada a
existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e
convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Cel. Bayar de Oliveira, representando o
Colégio Militar de Porto Alegre; Dr. Mário Jarros, representando a Associação
Cristã de Moços; Rubem Belomé, Governador do Distrito 103 Serra Clube; Dr.
Evaldo Campos; Sr. Kleber Lima de Castro, Homenageado; Srª Sueli Só de Castro,
Esposa do Homenageado; Ver. Rafael Santos, proponente da Sessão e, na ocasião,
Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Ver.
Rafael Santos que, em nome da Casa, discorreu sobre o significado do título de
Cidadão Emérito hoje concedido ao Sr. Kleber Lima de Castro, como mostra do
reconhecimento da nossa comunidade àqueles que trabalham por seu
desenvolvimento, destacando a participação ativa do Homenageado nas buscas de
uma Cidade mais progressista e humana. Após, o Sr. Presidente convidou o Ver.
Rafael Santos a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao
Sr. Kleber Lima de Castro e concedeu a palavra à S. Sa. , que agradeceu a
homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente fez
pronunciamento acerca da solenidade, convidou as autoridades e personalidades
presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar,
levantou os trabalhos às vinte horas e dezessete minutos, convocando os
Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os
trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo
Ver. Rafael Santos, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Rafael Santos, Secretário
“ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. PRESIDENTE: Declaro abertos os trabalhos
da presente Sessão Solene, que se destina a homenagear o Sr. Kleber Lima de
Castro com o Título de Cidadão Emérito.
O Ver. Proponente, Ver. Rafael Santos, falará em nome de todas as
Bancadas com assento nesta Casa, traduzindo ao homenageado a palavra da Câmara
Municipal.
O SR. RAFAEL SANTOS: Exmo. Sr. Ver. Brochado da
Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Kléber Lima de
Castro, Homenageado, Senhores e Senhoras aqui presentes. Esta Casa possui uma
gama de prêmios e títulos que se propõe a oferecer àquelas pessoas que
trabalharam e trabalham pela nossa Cidade, nos diversos campos de sua
atividade. Entendi eu que Kléber Lima de Castro era merecedor de uma homenagem
e que seu nome ficasse registrado nesta Casa como uma das pessoas que mereceram
o reconhecimento de Porto Alegre, através de sua Câmara de Vereadores. E, ao
buscar, na vida de nosso homenageado de hoje, em qual prêmio, em qual título
deveria ser enquadrado Kléber Lima de Castro, com dificuldades face às inúmeras
facetas de sua personalidade, de seu trabalho em prol da comunidade
rio-grandense. Kléber de Castro é um radialista, atuou na antiga Rádio
Difusora, Rádio Gaúcha e Farroupilha, um líder comunitário. Conheci Kléber de
Castro na Fundação Casemiro Bruno Kurt lidando com crianças, preocupado com o
futuro das crianças menos favorecidas da Vila Cruzeiro do Sul, de repente, me
surpreendo ao encontrá-lo no Padre Cacique cuidando da nossa velhice desvalida.
Não fosse suficiente este trabalho em prol do jovem, em prol da velhice, vamos
encontrá-lo ainda na Associação de Ipanema, no Conselho Comunitário de Ipanema,
preocupado com seu bairro, com a região onde vive. Se pesquisarmos a vida de
Kléber, vamos encontrar o industrial, homem que lutou por um dos setores mais
difíceis e mais importantes que é o setor da navegação, dos estaleiros, numa
cidade como a nossa, longe do mar, mas que teve e tem registrado o nome de
Kléber Castro como Diretor do Estaleiro Só. E tem mais: é preciso não esquecer
que Kléber Castro é um homem de fé, e vamos encontrá-lo na Paróquia Nossa
Senhora Aparecida, como homem atuante na comunidade da Paróquia. Vamos
encontrá-lo no Santuário Santa Rita de Cássia onde muitas vezes encontrei-o
vendendo galeto, trabalhando, pleiteando melhoras para o entorno da Paróquia do
Santuário. Vamos encontrá-lo no Serra Clube onde foi Governador, onde foi
Presidente. Encontramos Kléber Lima de Castro na administração pública, onde
por largos anos presidiu a Junta Militar de Porto Alegre e assessorou o
Prefeito de Porto Alegre. Humanista, sim humanista, homem preocupado com a vida
de cada um, e vou me permitir aqui lembrar um episódio que talvez até o nosso
homenageado de hoje não se recorde. Quando Diretor do Estaleiro Só, mais moço
do que hoje, mas mais gordo do que hoje, um eletricista que estava trabalhando
no Estaleiro Só sofreu um choque elétrico, e Kléber que estava na sua sala
ouviu o grito deste eletricista e precipitou-se escada abaixo com seus 120
quilos e desligou a rede geral do Estaleiro paralisando toda a indústria para
só depois verificar se havia ou não havia gravidade no choque levado por este
eletricista. Muito mais preocupado com a pessoa humana do que com toda a
indústria que administrava.
E, por último, não poderia deixar de citar – porque esta é uma Casa
política – o político Kléber Lima de Castro que honrou sobremaneira esta Casa,
quando aqui esteve como Vereador da Cidade e aqui deixou a sua marca de homem
sério, de homem competente, capaz, estudioso dos problemas de Porto Alegre e de
um homem trabalhador.
Vejam os Senhores e as Senhoras, as múltiplas facetas de nosso
homenageado de hoje e hoje, há pouco mais de quinze ou vinte minutos atrás, é
que tomei conhecimento de que Kléber de Castro também teve a sua incursão na
área militar já que foi aluno do Colégio Militar e eu também não sabia desse
detalhe.
Por todos estes títulos, talvez até por uma destas facetas ou uma
destas facetas seria o suficiente para que a Câmara Municipal prestasse a sua
homenagem concedendo o título de Cidadão Emérito a Kléber Lima de Castro. O
somatório dos trabalhos realizados e que ainda realiza Kléber Lima de Castro
nas diversas áreas de atuação fizeram e fazem com que a Câmara se sinta
orgulhosa de poder prestar a este homem a sua homenagem e a homenagem do povo
de Porto Alegre através de seus representantes. Não é nenhum favor, não é
nenhum galardão, é apenas o reconhecimento da Câmara Municipal de Porto Alegre
a Kléber Lima de Castro por tudo o que fez por esta Cidade e por tudo o que faz
por esta Cidade e certamente por tudo o que ainda fará pelo nosso Município.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Vereador autor
da proposição que proceda à entrega do título de Cidadão Emérito ao Sr. Kléber
Lima de Castro.
(É feita à entrega do título.) (Palmas.)
Concedemos a palavra ao nosso homenageado.
O SR. KLÉBER LIMA DE CASTRO:
Sr.
Presidente, Ver. Brochado da Rocha; Ver. Rafael Santos que propôs a outorga do
título a mim conferido; Srs. Vereadores; Senhores e Senhoras que aqui
comparecem dando o testemunho de sua amizade.
Cito uma passagem da Bíblia, Mateus, Capítulo 22, Versículo 29: “Ama o
teu próximo como a ti mesmo.”
Elevo, neste instante, o meu pensamento aos meus pais Isolino Freitas
de Castro e Uraspetina Lima de Castro; aos meus avós, meus segundos pais, Major
Carvalho Lima e Ercília Lima. Divido o título a mim outorgado neste momento com
minha esposa Suely Só de Castro e o dedico aos meus filhos Sérgio e José Antonio e que sirva como exemplo aos netos
Rogério, Ricardo, Alexandre, Luciano, Natacha, Cláudio e Gabriel. Ao subir esta
tribuna, duas grandes emoções senti. A primeira, é lógico, o retorno a este
recinto da Câmara, de ter o privilégio de recordar o período em que exerci a
vereança, além da oportunidade de rever, com muita alegria, vários Vereadores
militantes ainda nesta Casa do Povo. Mas também nos assalta a saudades de
outros Vereadores que já não estão mais junto a nós, como Aloísio filho, Wilton
de Araújo, Martim Aranha, Valneri Antunes e Glênio Peres, todos paradigma de
homens dignos. A segunda emoção é a de vir receber o título de Cidadão Emérito,
que o Ver. Rafael Santos e seus pares me conferem. Mais pela amizade do amigo
Ver. Rafael Santos do que por méritos próprios a mim conferidos. Ao Ver. Rafael
o meu reconhecimento, a minha gratidão e alegria que está proporcionando a mim
a outorga desse título. Estendo também o meu muito obrigado aos Vereadores que
deram o seu voto favorável.
Realmente, este é um instante de muita alegria, comparável com aquele
instante que recebi, em praça pública, em frente da Estátua de Tamandaré, na
Cidade do Rio de Janeiro, a Medalha do Mérito Naval – Ordem de Cavaleiro, maior
condecoração da nossa Marinha. Posteriormente, quando fazia parte da primeira
turma de agraciados com a Medalha do Mérito Industrial, oferecido pela Federação
das Indústrias do Rio Grande do Sul.
Minha vida não foi das mais tranqüilas. Cedo, perdi meu pai. E minha
falecida mãe junto com um irmão e eu fomos morar com meus avós maternos. Isto
na Cidade de São Leopoldo. Já estava cursando o Primário, iniciado no colégio
público, na Av. Getúlio Vargas, localizado no local do antigo Jardim Zoológico
e tenho certeza que muitas pessoas, aqui presentes, não conheceram.
Em São Leopoldo, fui logo matriculado na escola pública para continuar
o curso primário iniciado e, onde, conclui. Na época, só havia ginásio na
Capital. Então, retornamos, mudamos a residência para Porto Alegre, onde, minha
mãe conseguiu uma vaga gratuita com o Sr. Prefeito de então, Dr. Otávio Rocha,
avô do nosso ilustre Ver. Brochado da Rocha que preside esta Casa.
Assim me matriculei no Ginásio do Rosário, quando era inaugurado o novo
Colégio na Av. Independência. Alicercei, ali, os meus estudos até no segundo
ano. Isto foi no ano de 1930 – já vai longe – quando veio uma lei que permitia
aos oficiais que serviram na Guerra do Paraguai matricular, gratuitamente, seus
filhos ou netos e assim como desejava seguir a carreira militar fui matriculado
no Colégio Militar, onde fiz seis anos, terminando o curso secundário todo.
Devo dizer que tive lá, no Colégio Militar, momentos felizes e de
gratas recordações e para felicidade minha conto aqui neste instante, presente
neste auditório, com vários colegas da época.
Foi ali que plasmei o meu caráter, aprendi a ser amigo dos meus amigos,
pelos ensinamentos recebidos de todos os professores que não se cansavam de
transmitir os seus conhecimentos. Ao terminar o último ano, como era realmente
um governo discricionário na época, foi exigida média 6 e a turma de 75 alunos,
somente 26 foram para a Escola Militar.
Com isto minha vida deu um giro de 360º e fui trabalhar. Meu primeiro
emprego, como já referiu o Ver. Rafael Santos, foi de “speaker”, porque naquela
época ainda não era usado a palavra locutor. Trabalhei na Rádio Gaúcha,
funcionava lá numa praça que tem em frente a hidráulica e tive a oportunidade
de lançar pela primeira vez no Estado, visto ser o Estado bastante agrícola e
também de criação de gado, a “Hora do Fazendeiro”. Tive esta oportunidade de
lançar, pela primeira vez, no Rio Grande do Sul, a “Hora do Fazendeiro”, para
orientar estes homens que trabalham no campo. Posteriormente, com a saída do
Nilo Ruschel da Rádio Difusora, PR S 9, fui substituí-lo e, aí, tive uma outra
oportunidade, de apresentar o primeiro programa de auditório em Porto Alegre. Este
programa denominava-se “Hora do Bicho”. Eu acho que alguns ainda se recordam.
Este programa era orientado pelo flautista e muito querido na época, Piratinha.
Apresentei, ainda, ao público do Rio Grande, a inesquecível Carmem Miranda,
João Peter de Barros, o homem que era como a voz de 18 quilates, César Ladeira
e Edvaldo Kozi, quando aqui estiveram em períodos diferentes. Ainda há quatro
anos atrás, eu fiz um programa na Farroupilha, que denominei “Comunidade em
Ação”, apresentando as comunidades, através dos Clubes de Mães, das Associações
Comunitárias, dos Rotaries e Lions. Logo que terminei de cursar o Colégio
Militar, junto com trabalho de rádio, comecei também a trabalhar num
escritório, como aprendiz. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, já casado,
e resolvi cursar o CPOR, saindo Comandante de Pelotão, e fiz estágio para 2º
Tenente R2, no 7º Batalhão de Caçadores, onde era Comandante o Cel. Catane e,
ao término do estágio, o 7º passou a ter a denominação de 18 RI, e foi lá para
o Partenon. Procurei logo aprimorar meus conhecimentos intelectuais, fiz curso
de contador, no Sindicato dos Comerciários, onde também fui membro da
Diretoria; fui Presidente do Grêmio dos Estudantes e guardo agradáveis
lembranças; aí começou a minha preocupação com a comunidade, indo morar no
bairro Ipanema, fui convidado para presidir o conselho comunitário, e
participei de vários conselhos sempre em defesa da comunidade em que vivo, e
assim participei do Conselho Municipal Contribuintes, Conselho Hidroviário do
Estado, do Conselho de Comunicação do Estado, justamente no momento em que eram
feitos os primeiros estudos para a expansão dos telefones em todo o Estado.
Participei do CETUR e COMTUR. O trabalho comunitário sempre esteve presente em
minhas cogitações, procurando sempre a integração e a colaboração de
inteligências em busca do objetivo maior, valorização do homem, e como
conseqüência a melhoria de vida, sempre tão perseguida. Talvez, neste instante,
fale mais movido pela maturidade que veio, e os olhos no rosto ceder o lugar
para os olhos da alma, já talvez não tenha o direito de ver de dentro para
fora, mas somente de dentro para dentro. Graças a Deus sempre fui um homem de
ideal, e sempre encontrei motivação para meus conhecimentos intelectuais, além
de contador, sou administrador, jornalista, técnico-naval, para cada vez mais
me capacitar e hoje poder dizer: entrei para uma empresa como aprendiz de
escritório e saí, depois de 37 anos, como seu Diretor-Presidente.
Trabalho ainda junto à comunidade e vejo aqui para minha alegria vários
companheiros de Rotary. E no Rotary estive durante 33 anos e sócio fundador do
Rotary Porto Alegre Sul, cujo lema é “Dar de si antes de pensar em si” e em 31
anos tive 100% de freqüência. Não abandonei nunca as preocupações com o conhecimento
de aprimoramento espiritual e as vezes acontecem coisas que não sabemos
explicar. Para dizer sim à Presidência da Junta Militar por delegação de
ex-Prefeitos da Capital, um dia me aparece um senhor que desejava falar comigo.
Mandei entrar e este senhor me levava uma proposta para criar na Zona Sul um
Serra Clube e logo foi me dizendo o objetivo. Era um clube de leigos para
trabalhar pelas vocações sacerdotais e religiosas. Pois amigos, hoje faço parte
deste clube com alegria e vejo presente aqui, hoje, para minha satisfação, o
Governador do Distrito 103, Sr. Rubem Belomé, além do Presidente do Serra Porto
Alegre-Sul, Sr. Dr. Homero e outros companheiros do Serra Clube.
Participei ainda da fundação de uma creche, creche implantada em plena
Vila Cruzeiro do Sul, chama-se Fundação Casemiro Brum Kurtz, onde, quando na
Presidência, nossas preocupações foram voltadas para as crianças.
Hoje, da criança para o último estágio da vida, o idoso, participo da
Diretoria da Sociedade Humanitária Padre Cacique, mantenedora do Asilo Padre
Cacique, que foi fundado há um século, em terreno doado por Dom Pedro.
Quero dizer ainda algumas palavras e me permitam sobre a empresa única
que trabalhei, galgando todos os postos de comando. Uma empresa que jamais
pensei em sair, mas pela contingência da época e com a falta de sensibilidade
de muitos colaboradores de postos de mando do Governo, que agem muitas vezes de
formas estranhas, ocasionando profundas variações em vários setores de produção
e algumas mesmo tradicionais: falo do Estaleiro Só S.A., e tenho a satisfação
também de aqui ver presente operários da época em que eu era Presidente. E um
destes operários, que está aqui presente, é justamente aquele que o Ver. Rafael
Santos mencionou que havia tomado um choque e fui obrigado a abrir a chave de
controle de entrada de força. Ele está aqui presente. Mas, meus amigos, falo do
Estaleiro Só S.A., uma das firmas mais antigas do Estado. Hoje tem 133 anos; e pertenceu a uma família
tradicional, pertenceu a José Manoel da Silva Só, que foi sucessor de D.
Henrique da Fonseca. O Estaleiro nasceu na Praça dos Ferreiros. Penso que aqui
muitos não conhecem. A Praça dos Ferreiros é, hoje, a praça em frente a nossa
Prefeitura, na esquina da Rua Uruguai. Foi ali que surgiu o Estaleiro. E por
força da expansão da nossa Porto Alegre e o Estaleiro acompanhando esta
expansão, ele mudou de localização para a Rua Voluntários da Pátria, onde era a
firma Secco e Cia. Alguns conheceram. Da Voluntários da Pátria foi para a
Comendador Pereira, atrás da Mesbla. Da Comendador Pereira passou para a Av.
Júlio de Castilhos, sempre perto da água para o lançamento de navios. Da Júlio
de Castilhos voltou à Voluntários da Pátria. Dali, por força do que conta a
enchente de 1941, o Estaleiro procurou nova localização. Depois de muita luta e
muito trabalho foi conseguida a localização na Ponta do Mello, no Cristal. O
Governo de Juscelino Kubstscheck expandiu em nossa Pátria a indústria naval. E
aqueles que tinham confiança no Estaleiro não tiveram dúvidas em apresentar o
seu Projeto de expansão e trazer realmente para o Rio Grande do Sul a indústria
naval, porque até então apenas eram feitos aqui no nosso Estado embarcações de
pequeno porte que navegavam exclusivamente em nossos rios. Isto porque tínhamos
certeza que o Rio Grande do Sul, com a sua rede maravilhosa de rios, o Brasil
com a sua costa imensa navegável, não poderia virar as costas a esse transporte
de sua riqueza, o transporte mais barato. Assim foi feito e levamos o Projeto.
Tivemos a satisfação, a alegria de ver em vários projetos apresentados, seis
apenas aprovados e entre seis estava o Estaleiro Só.
O Estaleiro Só, em 1967, conseguiu ter as instalações em condições para
fazer o primeiro lançamento, porque, como já me referi, a luta foi árdua. Basta
dizer o seguinte, permitam-me que use mais um pouquinho do seu tempo: uma
ligação telefônica para se conseguir com o Rio de Janeiro levava-se dois dias e
o primeiro navio de porte foi flutuar nas águas do nosso Guaíba com mão-de-obra
exclusivamente gaúcha: o Estaleiro era gaúcho, os operários eram gaúchos e
havíamos assumido o compromisso de todos os recebimentos serem trazidos também
para nossa Porto Alegre, para o nosso Estado, colocados em Bancos do Estado e
somente depois é que faríamos o pagamento aos diversos fornecedores de
materiais. Hoje, meus amigos, tudo é realizado fora do nosso Estado. E eu deixo
aqui uma pergunta: por que o Estado arrenda o antigo Estaleiro Mabilde para uma
empresa que nada, hoje, oferece ao Rio Grande? Nos, logo que aconteceu o fato,
porque nós todos temos momentos agradáveis e momentos tristes e houve um
instante que nós tivemos de tomar uma decisão, ou eliminávamos o Estaleiro Só
do Estado, ou entregávamos o Estaleiro Só. E entre uma e outra, achamos melhor
entregar o Estaleiro Só. Foi duro, entretanto, temos a satisfação de ter
oferecido ao Estado uma indústria que achamos de real valor. Para não mais me
alongar, teria muito a contar ainda, entretanto, este momento é de alegria e
satisfação em vista do motivo da proposição do Ver. Rafael Santos em me
conceder um título de Cidadão Emérito. Mas estamos à disposição daqueles que
desejarem saber mais alguma coisa sobre a história da construção naval e, em
especial em nosso Estado.
Ver. Rafael, agradeço, mais uma vez, a sua idéia de oferecer este
diploma a mim, que méritos nenhum possuo. Agradeço aos Srs. Vereadores e, em
especial, agradeço aos meus ex-colegas do Colégio Militar que aqui estão.
Agradeço aos companheiros Serra que aqui também estão, ao Dr. Jarros que é
membro da ACM, onde sou membro do seu Conselho. Agradeço ao Dr. Walter Lemos
que aqui está como membro do Conselho dos Administradores; o representante do
Comando Militar Sul; aos colegas da Liga de Defesa Nacional - está aqui um
grupo bastante grande e que visualizo daqui -; aos meus ex-companheiros de
Rotary, o meu muito obrigado pela presença; e aqueles meus ex-operários que
muita satisfação, muita alegria vieram dar; aos parentes, também, a todos,
enfim, meu muito, muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Na qualidade de Presidente
da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, quero, inicialmente, cumprimentar o
Sr. Ver. Rafael Santos que proporciona a esta Casa a oportunidade de conceder
um título a uma pessoa que foi para nós, como nosso ex-Vereador Kleber de
Castro, como era assim chamado por todos nós, dizendo que guardamos dele, não a
lembrança exata que os senhores e senhoras tiveram oportunidade de ter no dia
de hoje, eis que S. Exa. aqui notabilizava-se por dois motivos principais: primeiro,
por um que eu até não entendia bem, mas que hoje passei a entender um pouco
melhor, que era o seu vigor, a sua postura naquela tribuna. Diferente do dia de
hoje, S. Exa. tinha temas polêmicos e se constituía, sem dúvida, num dos
brilhantes membros que esta Casa teve. De outro ponto, ponto diverso em que nós
tivemos um convívio diferente daquele do proponente desta Sessão e deste ato,
Ver. Rafael Santos, eis que convivíamos em bancadas diferentes, por isto,
tínhamos idéias diferentes, mas que eram marcadas esta idéias por um profundo
apreço pessoal.
Conhecíamos a vida e a obra de Kleber de Castro de longa data, pelos
nossos antepassados, que nos contavam. Somente tivemos ocasião de conhecê-lo
com proximidade, quando convivíamos dois anos com S. Exa. E tínhamos até uma
certa timidez de chegar mais próximo de uma pessoa que tinha um nome na Cidade,
no Estado e no País, motivo pelo qual ficávamos sempre próximos, mas
reservados. Mas isto fez com que, no nosso convívio, pudéssemos nos aproximar e
ter para com ele um imenso carinho, um imenso apreço e, sobretudo, guardar
dele, como colega, uma recordação e um depoimento do seu comportamento, da sua
contribuição para com esta Cidade e para com o bem público, porque passou a ser
para todos nós, independente de siglas partidárias, daí o porquê da unanimidade
de termos no homenageado uma pessoa de alto apreço, é uma pessoa que sempre
estava pronto para oferecer, a qualquer um de nós, uma palavra amiga, um afago,
um gesto. Muito mais do que um empresário, muito mais do que qualquer coisa,
foi uma pessoa humana extremamente transmissora de fraternidade, e que dava
sentido humano às coisas que realizava.
Por isso, como ex-colega e como Presidente da Câmara de Vereadores, é
profundamente honrosa a tarefa que hoje me coube, na presidência dos trabalhos,
e ter a possibilidade de conviver um pouco mais, e contribuir para que a cidade
de Porto Alegre agradecesse os trabalhos prestados por Kleber de Castro a esta
Cidade, e à Câmara teria que reconhecer. O Ver. Rafael Santos tornou uma coisa
que existia de fato em algo escrito, e que ainda oportuniza que o nosso
homenageado, através de seus depoimentos, possa enriquecer a nossa história, os
nossos conhecimentos para debruçarmo-nos sobre eles, e traçarmos os nosso
futuros.
Dr. Kleber, foi honroso para todos nós podermos fazê-lo Cidadão de
Porto Alegre, mas, sobretudo, foi extremamente gratificante a sua presença,
juntamente com seus amigos, colegas e familiares juntos de nós. Ver. Rafael
Santos foi apenas e tão-somente um momento feliz para a Câmara de Porto Alegre.
Agradeço a todos.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente
Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 20h17min.)
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